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Como acolher e envolver crianças com Transtorno do Espectro Autista na missão da Igreja Campanhas e projetos têm intensificado a inclusão e adaptação de programas para atendê-las e proporcionar ambientes que atendam suas necessidades.

Publicada em: 21/10/2025 15:42 -


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Envolver crianças e famílias nas atividades da igreja faz a diferença. (Foto: Shutterstock)

Na primeira parte desta entrevista sobre a Igreja e o mês azul foi abordada a relevância da campanha e o compromisso da Igreja Adventista do Sétimo Dia em promover a conscientização sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Ela também abordou dicas e orientações de como pessoas ligadas a ações e salas infantis nas igrejas locais podem fazer para acolher e incluir as crianças com TEA nas atividades promovidas. 

Nesta segunda parte, a professora e mestre em Educação Física pela Universidade de Campinas (Unicamp) e especialista em TEA pelo Child Behavior Institute (CBI) of Miami, Joseni Marlei Paula Braga, compartilha experiências práticas, desafios enfrentados e estratégias adotadas para tornar esses espaços mais inclusivos e acolhedores para pessoas com TEA e suas famílias.

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Atual coordenadora e docente da pós-graduação em Educação Especial Inclusiva do Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP), ela ressalta que este diálogo busca inspirar líderes e membros a continuarem construindo uma comunidade onde todos se sintam verdadeiramente pertencentes. 

O ambiente influencia

Qual a importância de um ambiente acolhedor e estruturado para crianças autistas na igreja? 

É a permanência dessa criança, e da sua família, no convívio congregacional, inclusive na fé cristã. A criança autista é um potencial herdeiro da eternidade como qualquer outra criança e tem o direito de, junto aos seus colegas, se preparar para isso dentro da casa do Pai. 

Não são poucos os casos que conheci durante esses anos, de famílias que se afastaram do convívio congregacional porque esperavam que a igreja fosse se constituir no seu maior refúgio em meio a tanto preconceito e desafios enfrentados nos demais contextos de vida. Mas que, infelizmente, não foi assim que aconteceu. 

Como a igreja pode apoiar as famílias que têm crianças com TEA para que se sintam acolhidas e incluídas? 

Sem nenhuma dúvida, o primeiro passo é a informação. Tenho percebido como os movimentos do Sábado Azul, por exemplo, têm feito diferença na conscientização coletiva.  

Informação é o pré-requisito principal para a quebra de barreiras, antes de tudo, atitudinais. Ela é determinante para que as pessoas conheçam o TEA e assim (somente assim), compreendam melhor o funcionamento/comportamento das crianças dentro do Espectro. 

Adaptações estruturais também são muito importantes. Nesse caso, temos visto iniciativas importantes em relação às Salas Sensoriais (ou também chamadas de Salas de Descanso ou Salas da Calma). Ter um ambiente separado e preparado para atender às necessidades sensoriais e demais demandas excessivas tão comuns em crianças com TEA, torna-se cada vez mais imprescindível.  

Dicas que facilitam a rotina

Existem estratégias específicas para ajudar crianças autistas a se sentirem mais confortáveis e seguras no ambiente da igreja? 

Certamente! Por conta das suas características, a Sala Sensorial será o ambiente de maior referência em que a criança já sabe que tem um local para se refugiar em momento de sobrecarga sensório-emocional. Na nave da igreja já é mais difícil controlar os estímulos sensoriais. 

Às vezes, a depender do nível de suporte, crianças com TEA estão sobrecarregadas e sabem que, por isso, estão tendo algum tipo de comportamento estereotipado. Por exemplo; é algo que ela está fazendo apenas para conseguir se organizar e poder prestar atenção ao que está acontecendo à sua volta. Então, tudo o que ela precisa nesse momento para se sentir confortável e segura no ambiente da igreja é nada mais do que palavras e, principalmente, atitudes de carinho e aceitação. 

Como trabalhar a questão da rotina e das mudanças inesperadas, que podem ser um desafio para algumas crianças autistas? 

O melhor recurso para essa organização e antecipação tão importantes para uma criança com TEA são as Pistas Visuais. O uso de Pistas Visuais é uma prática com evidência e é uma abordagem da Análise do Comportamento Aplicada (ABA), intervenção com maior evidência de eficácia para o TEA. 

Além de ser uma prática com evidência, ela é extremamente simples de ser empregada. Pode-se usar fotos ou pictogramas (figuras universais de Comunicação Alternativa e Aumentativa - CAA) daquilo que se deseja informar.  

Pistas Visuais são imagens ou representações gráficas que auxiliam pessoas com Transtorno do Espectro do Autista a compreender e seguir instruções, rotinas e atividade, tornando-as mais previsíveis e compreensíveis. 

Cuidar para envolver

Quais são os maiores erros que podem ser cometidos ao tentar incluir uma criança autista? Como evitá-los? 

Uma frase muito comum dentro desse universo do TEA é: “Existem tantos autismos quanto autistas”. Isso significa que cada criança com TEA é única. Logo, requer um tratamento da nossa parte, também único.  

Vou dar um exemplo: se uma criança for hiper-reativa em seu sistema sensorial tátil e estiver desorganizada por sobrecarga sensorial, por mais gentil que seja, tentar acalmar essa criança com abraços será a atitude mais equivocada para aquela situação, naquele momento. A intenção é maravilhosa, mas só vai piorar o problema. 

Já uma criança hipo tátil pode apresentar melhora diante dessa mesma estratégia: um abraço! 

Complexo? Não se os líderes tiverem uma boa comunicação com a família e cuidadores dessa criança. 

Que tipo de linguagem e abordagem são mais eficazes ao ensinar uma criança autista sobre a Bíblia? 

Mais uma vez, inevitavelmente, é preciso lembrar que cada criança tem as suas especificidades (dentro do TEA e como uma criança), e isso vai determinar o formato de aprendizagem de maior efetividade. 

De uma forma geral, a comunicação através de frases mais curtas, ditas com clareza e, se necessário, no mesmo nível do olhar da criança podem trazer melhores resultados. Não é à toa que essas mesmas estratégias já costumam ser utilizadas com crianças neurotípicas bem pequenas, que têm maior dificuldade de foco. 

Crianças autistas costumam ser também grandes aprendizes visuais. Sendo assim, todo recurso visual é extremamente bem-vindo. Isso vale para os ensinos em geral, bem como para as antecipações diante de possíveis mudanças. Quadros, planilhas ou aparelhos eletrônicos, com imagens do passo a passo que essa criança irá vivenciar naqueles momentos costumam baixar muito a ansiedade diante do desconhecido e proporcionar comportamentos mais organizados e maior aprendizagem diante do que vai ser ensinado. 

Uma missão de todos

Tendo em vista as diferentes realidades dos templos adventistas espalhados pelos oito países da América do Sul, o que pode ser um diferencial para essa preparação? 

Talvez, algumas igrejas espalhadas por toda essa extensão geográfica possam ter maior dificuldade na aquisição de materiais e disponibilidade de espaços que facilitem a permanência e o bem-estar de crianças com TEA na igreja.  

Mas, certamente, isso não é o mais importante. Eu sempre digo que fazemos muito com muito pouco! 

Aliás, a maior expectativa em Inclusão que famílias com TEA esperam das suas igrejas (e acho que posso falar em nome delas) está nas questões atitudinais. E, para essas, o único recurso envolvido é o amor. 

Acredito muito que o maior diferencial para essa preparação é, prioritariamente, voltarmos à essência da nossa vida cristã: “Amar a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a nós mesmos”. 

Para essa missão, nós já temos o nosso exemplo: Jesus Cristo! Nenhum outro ser foi mais inclusivo. É só seguir o Mestre. E Ele espera que o façamos porque Ele sabe que, nessa relação, neurotípicos e neurodivergentes, líderes da Sua causa e Seus filhinhos mais vulneráveis, ambos, precisam uns dos outros para aprimorar o seu caráter e alcançar a vida eterna. 

E é assim que eu gostaria de terminar a nossa conversa. 

Ele nos falou, através de Sua serva Ellen G. White, qual o propósito de tudo isso.

“Vi que é pela providência de Deus que viúvas e órfãos, cegos, surdos, coxos e pessoas atribuladas por diversos modos foram postos em íntima relação cristã com Sua igreja; é para provar seu povo e desenvolver seu verdadeiro caráter. Os anjos de Deus estão observando para ver como tratamos essas pessoas necessitadas de nossa simpatia, amor e desinteressada generosidade. Esta é a maneira de Deus provar nosso caráter. Se possuímos a verdadeira religião da Bíblia, havemos de ver que temos para com Cristo um débito de amor, bondade e interesse, em favor de Seus irmãos; e não podemos fazer outra coisa senão manifestar nossa gratidão por Seu incomensurável amor para conosco enquanto éramos ainda pecadores indignos de Sua graça, mantendo um profundo interesse e desprendido amor para com aqueles que são nossos irmãos, e menos afortunados que nós” (Serviço Cristão, p. 146). 


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