Igreja Adventista amplia acessibilidade e promove protagonismo da comunidade surda

Em resposta ao Censo 2022, 2,6 milhões de pessoas declararam ter dificuldade para ouvir, dentro de um total de 14,4 milhões de pessoas com deficiência. Nesse cenário, a Igreja Adventista do Sétimo Dia tem buscado promover inclusão e acessibilidade, abrindo espaço para que os surdos não apenas participem de suas atividades, mas também liderem e compartilhem a mensagem do Evangelho. 

O Ministério Adventista dos Surdos (MAS), vinculado ao Ministério Adventista das Possibilidades (MAP), nasceu como resposta a essa necessidade. Por meio de capacitação de intérpretes, formação de líderes surdos e programas na Língua Brasileira de Sinais (Libras), a denominação tem ampliado o envolvimento da comunidade surda na missão de anunciar o retorno de Jesus. Nos últimos anos, diversas iniciativas têm sido implantadas para fortalecer esse ministério. 

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Para compreender melhor esse trabalho, a Agência Adventista Sul-Americana de Notícias (ASN) conversou com o pastor Douglas Silva, o primeiro pastor adventista surdo do Brasil. Ele atua atualmente na Igreja Adventista Central Paulistana, que pertence à Associação Paulistana (AP), escritório administrativo da denominação localizado em uma região que concentra a maior população de surdos do país. 

O que o levou a se tornar pastor, e de que modo sua história pessoal inspira seu ministério hoje? 

Por algum tempo fiquei pensando por que Deus permitiu que eu ficasse surdo. Mas hoje percebi que, se eu não fosse surdo, não teria conhecido a Igreja Adventista, não teria conhecido a verdade bíblica e tampouco saberia da volta de Jesus. Quando conheci, minhas esperanças se renovaram. 

E foi isso que me motivou a ensinar a Palavra de Deus aos surdos e me tornar pastor, para levar esperança a eles e prepará-los para o encontro com Jesus em Sua segunda vinda. Hoje prego em Libras não só para os surdos, mas também para os ouvintes. Sempre estarei pronto a servir onde Deus quiser que eu esteja e para quem Ele quiser que eu pregue. 

Desafios e estratégias de aproximação 

Na sua experiência, quais são os maiores desafios que impedem surdos de participar ativamente da missão da Igreja? 

Muitos surdos não vão à igreja por falta de acessibilidade. Os que vão, muitas vezes precisam se deslocar de longe para encontrar uma congregação que tenha intérprete de Libras. 

Falta conscientizar as igrejas sobre a importância da acessibilidade, para que a mensagem de Cristo possa alcançar a todos, inclusive os surdos. Também precisamos preparar novos intérpretes e novos líderes surdos para a missão. 

Que estratégias e práticas você já implantou ou tem visto funcionar bem para envolver surdos no evangelismo, ministérios, liderança e missão local? 

Estamos sempre inovando nas estratégias, buscando novas ideias — algumas pequenas e outras grandes. O que tem nos ajudado é promover encontros em que líderes surdos e intérpretes são convidados a compartilhar suas experiências. Isso também serve de incentivo para a formação de novos líderes e fortalece o ministério local. 

Como é para você trabalhar com membros surdos e ouvintes ao mesmo tempo? Que caminhos têm ajudado a aproximar esses dois públicos dentro da Igreja? 

Onde quer que eu pregue, sempre deixo claro que a missão da Igreja, conforme Apocalipse 14:6 e Marcos 16:15-16, é pregar o evangelho a todos — independentemente da idade, classe social, nacionalidade ou condição física. 

Jesus quer que estejamos preparados para alcançar todas as pessoas. Claro que intérpretes precisam de um treinamento específico, assim como os surdos. Um precisa do outro. Nós precisamos da Igreja, mas a Igreja também precisa de nós. Busco unir todos na missão como um só corpo, onde Cristo é a cabeça e nós somos parte desse corpo. Conscientizando e conversando com cada um, alcançamos esse objetivo. 

De que forma a Igreja pode estruturar melhor seus recursos — intérpretes, formação e comunicação, para que surdos não sejam só espectadores, mas agentes de missão? 

É importante haver treinamentos e capacitação para novos intérpretes e líderes surdos. Para a Igreja, oferecemos cursos básicos de Libras, para que os membros ouvintes tenham um pouco de conhecimento da língua e da cultura surda e possam se comunicar melhor. 
 
Também é fundamental que materiais como a Lição da Escola Sabatina e eventos como a Semana Santa tenham acessibilidade em Libras. Assim, todos podem estar envolvidos na missão de salvar. 

Como você imagina um futuro ideal, em que surdos estejam plenamente integrados na missão da Igreja? O que precisa mudar para chegarmos lá? 

Acredito que, com a integração do MAP nas igrejas e os treinamentos que vêm sendo realizados, logo teremos um envolvimento ainda maior de surdos na missão. Tudo leva tempo, mas estamos no caminho certo. 

Hoje, já somos o país com mais surdos e intérpretes adventistas no mundo, o que mais produz materiais acessíveis e um dos que mais formam líderes surdos e intérpretes. Estamos crescendo cada vez mais, alcançando mais pessoas e templos. Com esse engajamento, logo poderemos ver a integração plena do surdo com a Igreja. 

Evangelibras: compartilhando esperança em língua de sinais 

Uma das iniciativas do Ministério Adventista dos Surdos (MAS) para envolver a comunidade surda na missão é o Evangelibras, que em 2025 completa 10 anos. O programa compartilha mensagens bíblicas e reflexões relevantes para a comunidade surda, sendo apresentado em Língua Brasileira de Sinais (Libras) e tornando a Palavra de Deus acessível a todos.  

Mais que uma série de sermões, o programa oferece conteúdo inclusivo com transmissão online, incentivando estudo bíblico, oração, fraternidade e ação missionária, para que a mensagem alcance e envolva a comunidade surda na vida da igreja. 

A edição 2025, realizada de 1 a 4 de outubro, teve como foco a história de José, destacando lições de fé, comunhão e esperança. As mensagens e reflexões trouxeram aplicações práticas para o dia a dia, fortalecendo a caminhada cristã e encorajando participantes a compartilhar o conteúdo com outros amigos surdos. 

Assista ao primeiro episódio da programação aqui: 

Atualmente o Ministério Adventista das Possibilidades (MAP) conta com 26 cursos de Libras no Brasil, totalmente gratuitos e voltados à comunidade, além de uma escola online com 517 alunos que seguem aprendendo e compartilhando esperança em língua de sinais.

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