A história de Judas vai além da traição. Ela revela princípios de liderança, paciência e desenvolvimento que nos desafiam a amar mesmo os que nos decepcionam
A história de Judas Iscariotes muitas vezes é contada apenas pelo seu desfecho trágico, mas há algo muito maior por trás dela: uma grande lição sobre liderança, paciência e desenvolvimento. Judas não foi um acidente no grupo dos doze discípulos. Ele foi escolhido por Jesus, com intenção e propósito, assim como os outros. Em Lucas 6:12-16, vemos que Cristo passou uma noite inteira em oração antes de tomar essa decisão. Isso nos mostra que sua escolha não foi precipitada, mas fruto de um tempo de busca diante de Deus.
Judas caminhou com Jesus, aprendeu diretamente com Ele e testemunhou milagres extraordinários. Em Mateus 10:1-4, a Bíblia nos diz que Jesus deu a ele e aos demais discípulos autoridade para curar, expulsar demônios e pregar o Reino de Deus. Isso significa que Judas não era apenas um espectador: ele fazia parte da missão. Ele teve as mesmas oportunidades que Pedro, João e os outros. E, ainda assim, sua jornada seguiu um caminho diferente.
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Olhando para a maneira como Jesus liderou Judas, encontramos um princípio poderoso. Na liderança de hoje, é comum que, ao percebermos alguém que pensa ou age de forma diferente, ou que pode representar um risco para nós, nossa tendência seja eliminá-lo, afastá-lo ou ignorá-lo. Muitas vezes, escolhemos nos cercar apenas de quem concorda conosco ou nos apoia incondicionalmente. Mas Jesus nos ensina algo totalmente diferente.
Liderar não é controlar
Ele sabia quem era Judas. Sabia de suas intenções, de suas inclinações e até de sua futura traição. Mas, em nenhum momento, o rejeitou. Pelo contrário, manteve-o por perto, dando-lhe oportunidades de aprendizado e transformação até o último instante. Na Última Ceia, por exemplo, Jesus lavou os pés de Judas assim como fez com os outros discípulos (João 13:5). Esse gesto de amor e humildade mostra que, mesmo sabendo do que estava por vir, Jesus ainda lhe oferecia um caminho de redenção.
Isso nos ensina que a verdadeira liderança não se baseia na exclusão, mas no desenvolvimento. Quantas vezes nos apressamos em descartar pessoas por não corresponderem às nossas expectativas? Jesus, no entanto, nos mostra que precisamos aprender a liderar aqueles que são desafiadores, aqueles que pensam diferente de nós e até aqueles que nos decepcionam. Um verdadeiro líder não se apressa em desistir das pessoas, mas investe nelas, dá-lhes a chance de crescer e amadurecer.
A grande verdade é que Deus dá oportunidades a todos, mas cada um de nós é responsável pelas escolhas que faz. Judas teve tudo: convívio com o Mestre, ensinamentos profundos, poder para operar milagres. No entanto, seu coração tomou outro caminho. Em João 6:70-71, Jesus disse: “Não vos escolhi a vós os doze? Contudo, um de vós é diabo.” Ele sabia que Judas não permaneceria fiel, mas não o impediu de caminhar ao Seu lado. Isso nos lembra que Deus não força ninguém a segui-Lo. Ele dá a todos a liberdade de escolher.
Influenciar com paciência
Essa história nos ensina algo muito valioso: nem sempre veremos os frutos do nosso investimento em alguém. Podemos ensinar, aconselhar, dar oportunidades e, ainda assim, algumas pessoas escolherão outro caminho. Mas isso não deve nos impedir de liderar com amor e paciência. Se até Jesus, sendo perfeito, teve alguém em seu círculo que não correspondeu, quem somos nós para esperar que todos ao nosso redor sejam exatamente como gostaríamos?
Judas nos lembra que ser chamado não significa ser forçado a permanecer. E Jesus nos ensina que a liderança verdadeira não controla, mas influencia. Em vez de rejeitar os difíceis, Ele os manteve por perto, ensinando até o fim. Se queremos liderar como Ele, precisamos aprender a enxergar além das falhas e acreditar no potencial das pessoas. Algumas irão mudar, outras não. Mas nosso papel não é desistir, e sim oferecer o caminho.
Se até Jesus, sabendo do coração de Judas, escolheu amá-lo e ensiná-lo até o último instante, também podemos aprender a lidar com as pessoas ao nosso redor com mais graça, paciência e fé. Afinal, a verdadeira liderança não é sobre ter o controle, mas sobre ser uma influência capaz de transformar vidas.

